Um só no meio da (sua) multidão…

Quatro e tal da manhã…

E a grande rede passa imagens e sons de um mundo que nunca pára de facto

Nem sequer para dormir, perdido na sua imensidão

A rede dá-me tudo

Todas as companhias que desejo

Mas desejo ainda mais sair e ser só

Um só no meio da (sua) multidão…

E assim desligo os cabos

Ou as redes invisíveis

Entrego-me a um bar ainda aberto

Rostos ébrios

Mas sim

Aqui a realidade ainda é possível…

E assim acendo um cigarro

Olho em volta

Olho de lado

Reparando

Que mesmo aparentemente só

Nunca estive tanto

E tão bem acompanhado…

Lançando os meus braços em volta da tal multidão

Que dança

Um pouco por todo o lado

Ignorando as convenções

Dançando e cantando por todo o lado

Até por cima do balcão…

Onde estou a beber

Onde estou a fumar

Onde estou a pensar

Mas de um momento para o outro

Torna-se impossível essa multidão ignorar

E assim me junto a ela

Sem palavras

Apenas com o olhar

E o dançar

Torno-me um da multidão

Porque a dança

E os seus sons

Soube partilhar

Porque me abandonei a mim próprio

Tornei-me algo integramente grupal

Porque com aquela multidão aparentemente desconhecida

Com ela e só com ela

Para sempre me apeteceu estar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 13/12/2011
Código do texto: T3386007
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