O nosso eco na eternidade…
Sabes…?
Disseram-me que um dia alguém irá recordar a humanidade
Muito depois dela desaparecer
Irão recordar-nos
Por sinais de rádio
De televisão que emitimos
E que serão interpretados pela matemática
A linguagem universal de todas as raças
De todos os lugares
Meros símbolos matemáticos
Que essas imagens
Esses sons
Virão depurados
Sem a sua graça…
Ou se calhar fórmulas que os nossos homens e mulheres da ciência mandam para o espaço profundo
Na esperança não sei se vã de um dia alguém nos recordar
Esperança estúpida
Absurda
Porque nunca será na matemática
Que verão a essência da humanidade
E pelo menos por uma vez
Os cientistas se enganaram
Porque a matemática é fria
Não exprime nem nunca exprimirá nem de longe
Por exemplo
O prazer que eu tenho
Quando te tenho a meu lado…
E não adianta sermos recordados
Por imagens sem sentido
Porque lhes carece a correcta interpretação
Porque o que caracteriza um homem
Uma mulher
Uma criança
É a forma individual como sente
Como percepciona cada sensação…
E por isso
Por mim
Até podem mandar todas as bibliotecas
Para esses receptores desconhecidos
Que estarão algures
Porque se podem até ler todos os livros
Mas só estando com ele
Se consegue saber da dimensão da alma de um poeta…
Podem até inventar imagens a três dimensões
Que se possam enviar
Mas só nos poderiam conhecer realmente
Se na pele de um humano
Se nos seus olhos
Além de os verem
Os pudessem também tocar…
Por isso somos e seremos sempre órfãos do espaço
Destinados ao esquecimento universal
Sendo que deveremos lutar aqui e agora
Entre nós
Pela preservação da nossa interioridade
Pois quem nos recordará realmente
Foi quem nos amou
Ou quem com esses seres privou
Com eles e somente com eles
O nosso legado estará devidamente preservado
O nosso eco na eternidade…