Gostava...
Gostava...
Que o dicionário tivesse resposta para as retóricas
E que não fosse apenas um mar de palavras poéticas
Versos soltos dos quais ninguém conhece a verdadeira essência
Fragmentos que transpiram a densidade emotiva dos sentimentos
Entregas que de mãos dadas com a alma se tornam únicas
Exclusividades que se idealizam ao compasso da Vida
E que se materializam nos sonhos com que acordamos de dia
E reflectimos num choro profundo durante a noite
Gostava...
Que por momentos o eco do coração chegasse até Ti
E derrubasse as barreiras e os muros que constróis
Como refúgio para a tua indecisão e perdição
Mas incapaz de soprar os acordes da pulsação
Terei somente de me resignar ao embaraço da ausência
Como se fosse uma maldição suportada nas asas
De um anjo que abraça o sonho de um dia voar
Gostava...
Um pretérito mais que perfeito que incomoda
Pela dimensão dos sentimentos que desabrocham
Com o frio dos flocos da neve que cai
E nesse tempo verbal sem graça vivo abraçada
Como se a vida fosse apenas uma miragem
Das metas que um dia desejamos alcançar
Como se os raios de sol derretessem a cada alfinetada
O tanto que um dia se quis perpetuar
Gostava...
Tão somente isso...
Talvez o tão simplesmente que ninguém percebe
Ou o tanto que percebem e fingem não compreender
E neste compasso sem tempo dou por mim a perguntar
Qual a necessidade de acinzentar uma maré que está apenas a iniciar
E talvez seja uma doce e suave ilusão acreditar
Porque para mim é sempre mais difícil mudar
O destino que as lágrimas teimam em traçar
Pela concorrência de um espaço que não tenho direito de ocupar
Sobrando apenas o embaraço de quem não resiste à entrega de se doar
Gostava...
Que assimilasses que não é o afastamento que cura
Nem tão pouco a permanência forçada que resolve
É somente a coragem e a definição que absolvem
As lástimas e as feridas que custam a sarar
Não fosse o tempo a melhor forma de as apagar
E nunca as explicações sem nexo que nos limitamos a arranjar
Gostava...
Mas isso sou apenas eu...
E por isso deixo de lado as palavras
Que são por vezes ingratas e inapropriadas
E deixo bailar tudo o resto
A ânsia de te abraçar e o desejo de te beijar
A incessante vontade de contigo estar
Ou o sonho de tudo aquilo que devo calar
Suaves devaneios que tenho de controlar
E que envio na forma de ondas magnéticas
Impulsos genuínos da mente
Que não racionaliza nada
E que por isso transmite a sinceridade de tudo
O que gostava de dar
Gostava...