Deixar-me…

Invadir por ti

Muito para além do que é tolerável

Ao ponto de absorver a tua essência

Ao ponto de tocar o belo

Mas sorver o silêncio

Misturar-me com a tua dor

E ela passar a ser a minha

Num caminho que não leva a nada

Nada

A não ser à destruição

Porque o que magoa

Se não for regrado

Pode

Ocasionar um holocausto…

Onde de repente

O que somos

Deixamos de ser

Passamos a ser as trevas

As quais todos temos

Mas que vivem num perigoso equilíbrio

Que se desfez

Quando me deixei levar para um certo limiar

Esquecendo que o afecto

É muito mais do que sentir

Do que partilhar…

E assim me devoraste

E assim me deixei levar

Não pelo que eras

Mas por aquilo que prometias dar

Deixei-me levar

Pelo sonho da empatia infinita

Deixei-me levar nas asas dos teus demónios

E não nas asas dos teus anjos

Porque estes estavam destinados a uma eterna reclusão

Que apesar do teu intenso brilho

O terror em ti era dominante

E o tempo passou

Mas não

O tempo não cura tudo

O tempo passou

Voltei a sonhar

Voltei a sentir

Mas a tua sombra será de certa forma perpétua

Porque nunca te deixei realmente de amar

Porque depois de te tocar

De te absorver

Tudo mudou

Já nada foi como era dantes…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 05/09/2011
Código do texto: T3202191
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