Deixar-me…
Invadir por ti
Muito para além do que é tolerável
Ao ponto de absorver a tua essência
Ao ponto de tocar o belo
Mas sorver o silêncio
Misturar-me com a tua dor
E ela passar a ser a minha
Num caminho que não leva a nada
Nada
A não ser à destruição
Porque o que magoa
Se não for regrado
Pode
Ocasionar um holocausto…
Onde de repente
O que somos
Deixamos de ser
Passamos a ser as trevas
As quais todos temos
Mas que vivem num perigoso equilíbrio
Que se desfez
Quando me deixei levar para um certo limiar
Esquecendo que o afecto
É muito mais do que sentir
Do que partilhar…
E assim me devoraste
E assim me deixei levar
Não pelo que eras
Mas por aquilo que prometias dar
Deixei-me levar
Pelo sonho da empatia infinita
Deixei-me levar nas asas dos teus demónios
E não nas asas dos teus anjos
Porque estes estavam destinados a uma eterna reclusão
Que apesar do teu intenso brilho
O terror em ti era dominante
E o tempo passou
Mas não
O tempo não cura tudo
O tempo passou
Voltei a sonhar
Voltei a sentir
Mas a tua sombra será de certa forma perpétua
Porque nunca te deixei realmente de amar
Porque depois de te tocar
De te absorver
Tudo mudou
Já nada foi como era dantes…