Um império do Sol…
Na certeza dualista e cruel
De que por vezes quem vela por nós
Quem nos quer proteger de certas sombras
No faz mais mal do que bem
Porque o amor pode ser a mais perigosa das armadilhas
Em vez de curar
Pode aprofundar ainda mais certo tipo de feridas…
E olho o céu em certas alturas
Nas alturas de tempestade
Procuro um raio de sol
Por detrás das nuvens
De uma aparente eterna monção
Procuro sinais de esperança
Nos teus olhos
A criança que em tempos morou em ti
Mas que deixaste escapar para o mundo dos adultos
E nela se dissolver
Não sabendo
Que em dias como esses
Essa criança
É o garante de esperança
Que vem resgatar o teu aparentemente perdido ser…
Tirar-te do meio da chuva dissolvente
Em que mergulhou toda a civilização
E nós por arrasto
Sentindo por sentir
De forma amarga
E quase cruel
Mas sem qualquer tipo de emoção…
Tento encontrar em Ti
Tento encontrar em nós
Traços que o tempo quer devorar
Traços da tal criança
Que num algures dentro do que nos transformámos
Luta por se querer
Por nos querer libertar
Porque para ela o sol se deitará sempre a jusante
Mesmo que nos digam o contrário
E embora o tempo não recue
E o nosso lado mais crescido
Sabe que nada é eterno
Pouca coisa se repete
E nada poderá ser como dantes
O sol de facto nascerá e ir-se-á deitar sempre no mesmo lugar
Tal como a vida
Porque se tal não for assim
De facto não adianta continuar a acreditar
E sentir
Mais do que saber
Que o império mais belo
É aquele das coisas simples
Onde o céu é azul
E tudo feito de papel
Onde se falam mil línguas
Mas lá nos entendemos
Recusamos que tudo se transforme numa nova Babel
Amando
E gostando
Pelo prazer genuíno de gostar
E assim sabemos
Que somos eternos
Nada nos irá separar
Duma espécie de
Um império do Sol…