Sonhos e pesadelos
Quando se sonha...
São nestes sonhos que meus olhos avistam... algo que não existe...
olhando atentamente para terras nunca olhadas... nunca sentidas...
lugares jamais pisados, em que um dia a bandeira do amor e da amizade...
foi posta como sobre um terreno branco e lunar...
quando se sonha... sonha-se com o mundo, sonha-se com muitas viagens... sobre singrar os mares...
que, querendo ardentemente estar no alto, cai nos abraços da querida... seja ela imaginária, ou realista...
e se por um instante eu oscilo como uma órbita de satélite...
voando entre nuvens espessas, como invisíveis toques de carinho...
é que se flutuando em sonhos nunca sentidos, eu me vi sorrindo...
e desejando, e não mais simples querer, o motivo de coração latejar... arder feito brasas antigas de festas triviais, calor de um fogo;
esperar por um dizer que fere e depois cura,
machuca para depois passar café no ferimento,
é o que os antigos punham, e somos antigos,
somos uma sombra da poesia, penumbra do sentimento...
não sei, mas viver sem dedicar a alguém um poema...
seria não sentir a água refrescar no calor, no ardor,
e não expressar, enquanto se pode sonhar...
sonhar, e assim, componho uma poesia de sonho...
não de um poeta, e, sim, de um sonhador,
que ora pensa demais, ora quer demais,
ora teme demais, ora sente demais...
ora somente carinho tem a ofertar...
e ora, nem sabe o que dizer mais...
é sempre sonhando, que a gente tem condição
de acordar, e poder ter saudade do que foi a noite...
aquela sensação de perder, faz tão bem perder o que
nunca tive, nem poderia ser, e, ao mesmo tempo,
é sonho que se busca, como se fosse ao encalço de cristais...
aqueles diamantes que ficaram reservados em lugares isolados...
procurar por geodos ocultos em pedras comuns,
por dentro as raízes do sentimento, o verdadeiro dizer,
seja poema, seja prosa poética, no que se diz não há tradução,
apenas sinta a brisa do mar, ela lhe diz algum sussurro...
o vento que vem roçar o rosto, eu fico sozinho com a ventania...
e, nos sonhos ainda, poderei eu dizer sobre como é o coração?
E nos sonhos, olhar com ternura branda, de um que usa o sentir,
como força de expressão do hálito doce, e do perfume do corpo com fervor,
no frio seria bom abraçar, mesmo que num olhar sinta um balbuciar...
sem dizer nada, e apenas sem parafrasear o que se vê, tentar traduzir,
o idioma que o almejo distante traz ao seio da mulher... o coração não quer ser transliterado, ele quer apenas sonhar...
Não existe D. Juan de Marco, mas existem apaixonados... sonhadores realmente... por todos os cantos, nos quatro cantos e encantos?
Deixem eles se expressarem, pois assim o mundo vira poema vivo... pulsante, e que os que são febris irão fazer o amor ter sentido alguma vez, algum dia...
Façamos uma poesia que fale de sonhos, pois todos temos sonhos...
mesmo que o sonho seja pesadelo de amor, porque vale a pena talvez,
quem sabe um dia e uma noite, num viver, poder sorrir com alguém que sabe sentir... amor, desvanecer, fugir onde os pássaros voam, construindo castelos de areia no mar, nas areias, e as ondas...
simplesmente um sonho...
Lord Lancelot
Pesadelo
Hein!? Tu, que andas aqui perdido, escuta: Essa aí sou eu, incógnita atrás de óculos escuros, a pele clara em contraponto, com cabelos meio curtos, meio longos, naturalmente pintados de castanho levemente avermelhado (bicho que já tem uns pelos brancos surgindo), de bermuda e camiseta, rasteira e boné para ocultar a face de olhares mais curiosos. É, essa aí com jeito de moleca e cara de adulta, sou eu: delinqüente da vida, não por ser a desguarida, a rica empobrecida, mas por simplesmente optar por delitos praticar sem revelar ao mundo meus olhos velhos, minha inocente torpeza perdida. Neste mundo circunflexo e quadrado pouco sonhei e o que conquistei já perdi mil vezes e reencontrei. O que restou está a naufragar. Sonhar custa tão pouco, mas paga-se muito. Sim, sou irônica e falo torto. Dizem que sou causídica, e das boas (arrogância?), entretanto minha real identidade é de poetisa da nua realidade. Sou crua, sou dura, mas me apontam como gentil e agradável. Se outros sonham, afinal custa tão pouco, embora quando soçobram cobram muito, não serei eu que deles roubarei minha ufânica imagem. Hein, cara! Olha aqui. Essa aí sou eu, nem velha, nem jovem, nem bela, nem feia. Normal ao inverso, converso com o espelho e meu dormir só me traz pesadelos. É, essa sou eu neste retrato que não te mostro: desafeita do mundo, sem poder, contudo, fugir do seu contato.
Adriane Dias Bueno