Amizade de Neve
Boneco de neve da cor da pureza
Com asas de sonho que aclamam a paz
Voa com suavidade da borboleta
Esquece com esperança e serenidade
As manchas do sangue da real dureza
Que em tempo de guerra te fizeram doar
Lembranças eternas de um doce lacrimejar
Suave algodão com gosto de mel
Com cheiro de oração eleva ao céu
Em jeito de prece que sem prece não trouxe
O desejo faminto de um pobre rosto
Nas ondas do mar cansado de revolver
A aspereza da areia e a rudeza das pedras
Encontra a sereia com voz de anjo
Que entoa o cântico que o coração apregoa
Como forma de afecto ou mágica inspiração
Obséquio de um tempo que encanta o coração
Corres as ruas, mas não te deram pés
Observas o mundo, sem te terem oferecido olhos
Vês para além do que o comum mortal vê
És feito de neve, mas preenchido de encanto
E o teu maior desgosto é congelares o tanto
Que mora na fogueira que alimentas com garra
Para que o frio tão gélido, tão absurdo
Não te roube o alento desse desalento
Que trazes por dentro dos flocos macios
Absurdos de frio repletos de Saudade
A única forma que queima o teu espírito
De uma invariável dignidade
Boneco de neve que brilhas com o sol
Que derretes por ausências e doentes discussões
Que não entendes o porquê dessa solidão
Porque apesar de gelado tu és dotado
Da mais bela das intenções
E mesmo vazio de tudo o que te espanta
Tu és o tanto que cobre a lacuna
De um imenso abismo
Que cercaste de afectos e emoções
Que o vento atiça em cada labareda
Em forma de poesia
Em pinceladas de magia
Que cobrem o teu doce deserto