À Beira do Túmulo

Amigo,

Vim te trazer flores,

Como trazias aos teus amores,

Singelas rosas, tão preciosas,

Pela mensagem, pelas cores.

Sem querer, revirei o passado,

De quando vivias na Lapa,

De quando em Salvador, atormentado,

Por ciúmes, desespero, deixastes pra traz,

De trem por Monte Azul,

Até aquela dor atroz do acidente,

Para encontrar novo amor confidente.

E me lembrei da canção, dos festivais,

Da revolução, dos sabres e punhais,

Ameaça à liberdade, à nossa mocidade,

Os sonhos presos em nossos corações.

Sofrestes na terra, me lembro,

Mas, quem não foi feliz ao relento,

Em noite de lua cheia, perto do mar na areia,

Quem não foi feliz no mato, em noite escura,

O céu rendado de estrelas, beleza pura.

E me lembro que me acovardei,

No teu enterro, sem coragem,

Da despedida para tua longa viagem.

Prefiro a lembrança e deixar no papel,

Linhas de saudade, de ti, Misael.