O DIA ESCORRE LENTO NO RETROVISOR

No vidro fechado em pleno calor
O dia escorre lento no retrovisor
Esvaindo-se nas nuvens de areia
Que vão ficando no seco caminho
 
Na secura do ar mantenho o olhar
Ligado no alinhamento do caminhar
Deixo para traz o tempo o meu algoz
Mas sou agora o dono do desatino
 
Caminhos de cores pastéis e cinzas
Segue o ônibus sem destino melhor
Com as pessoas olhando pela janela
Na imagem que se repete todo dia
 
A estrada feito um veio no barro seco
Leva aquelas pessoas de olhares fixos
Para o destino que o ônibus caminha
Sem anseio de como será a chegada
 
Eles não têm muito do que sonhar ali
Embora durmam bem como ninguém
É o sono dos que do braço trabalham
E o acordar é do sol de sol a sol a pino
 
O horizonte treme na ilusão dita do calor
E os animais se ofuscam antes da morte
Poucos sobreviventes ficam nos buracos
Aguardando a clemência que virá à noite
 
O tempo é longo ao contrário da vida
Que só a poucos fortes mantêm vivos
É a lida pesada na sua rotina sem água
Que te faz vivente de manter esta vida¿
 
Vêm prá cidade onde a água é corrente
Onde boa sombra te cobre permanente
Da natureza todo fruto está onipresente
Mas será que sabes de tino inconsciente
 
Que na noite não terás mais sono simples
E te acordarás já no meio de muita gente
Que não teus vizinhos de léguas distantes
Mas já gritando em alvoroço nas manhãs
 
Será que sabes que em troca da tua poeira
Verás a água fugidia procurando um bueiro
Que num instante depois estará na torneira
Que resvalando escorre pelos dedos da mão
 
Saiba que não terás mais o teu olhar ao céu
A espreitar sempre em humilde esperança
A vinda das pequenas gotas que umedece
E que correm e já secam antes da vertente
 
Será que sabes que perderás o teu silêncio
E que vivendo de sobre saltos não viverás¿
 
Triste sina deste século dos seres viventes
Empáfia gritante em clubes beligerantes
Onde só a cotoveladas abrem-se espaços
Ignóbeis seres que concorrem feito hienas
Por um lugar melhor dentro da hipocrisia
 
Dentro do ônibus deslizo o meu futuro
Sabendo que do homem pouco espero
Que na alma rastejante a inveja impera
E na empáfia todo vazio nela se esconde
 
Sigo no meu olhar só um destino certo
Para longe da vacuidade dos perdidos
Que em volta do vinho se escarnecem
Fazendo só valer os valores mesquinhos
Que já dizem sobre as almas pútridas
 
Do homem simples vou ao bel encontro
Independente da riqueza que presente
Carrego no peito todo o conhecimento
E para longe sigo do poço dos malditos
 
Vou ao encontro do tempo até depois do pó
 À longe dos desmoronamentos sucumbidos
Das desgraças em que o homem refestelará
Feito zumbi na mesa tomada de comida crua
Com a alma vazia de valores para a nova vida
 
Estou indo para o depois do pó
Pois aqui só o pó permanecerá.


www.hserpa.prosaeverso.net

"A felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo" Roselis von Sass -
graal.org.br