O Desabrochar da Aurora

O que é dar valor a algo?

Será deitar na cama e sorrir por voltar a casa

Abraçar um cão que nos lambe a face

E que ladrando demonstra a sua felicidade

Ou será tão simplesmente regressar a um porto seguro

Não será um misto de tudo isto?

Primeiro o conforto dos cobertores

Depois a segurança da casa

O aconchego dos amigos, da família

O amanhecer com cheiro de regresso

Como é viver longe de tudo o que amamos?

Sentir a distância de um abraço

A ausência de uma fotografia

A solidão de uma presença

Acorrentarmo-nos à ilusão de que estamos perto

Quando na verdade conhecemos a distância

Pensar que as estrelas são um paraíso comum

O pôr-do-sol companhia remota

O vento o veículo que nos aproxima

E a saudade como definir?

Sentimento antagônico e complexo

Falta de algo ou de alguém

Ternura demoníaca que queima

Inferno que arde no coração

Tesouro permanente da memória

Perfume que aconchega o anoitecer

Letras que perfazem nomes

Nomes que sibilam histórias

Histórias que constroem momentos

Momentos que conjecturam vidas

Saudade...

È o que o peito sente quando se afasta

De forma criteriosa ou involuntária

Da amizade e do amor que nutrimos

E que por momentos nos preenche o espírito

Tenacidade de uma ausência demente

Fragilidades de uma alma apaixonada

Corações vazios mas repletos de amor

E afinal qual o porquê de tudo isto?

É o espaço que se cria

O destino que arrasta

A esperança que alicia

O desgaste que mata

É o coração que não resiste

É a infelicidade que se instala

Percursos de um cidadão triste

Verdades de uma população gasta

E nós? Que fazemos perante isto?

Uns ausentam-se ainda mais

Tornam-se pequenos pontos negros

Pouco seguros de afecto

Pouco sedentos de sonho

Perdidos no caminho da ilusão

Afastados do imenso infinito

Daquele que nos sorri face à imensidão

E os outros? Não existirão outros?

Constelações na imensidão

Raras e nebulosas

Algumas tão difusas e orgânicas

Que o inorgânico as sufoca e destrói

Destruí-las?

Talvez não...

São pequenos oásis de emoção

Sentidos que se multiplicam

Em múltiplos de cinco

Tocando na mão de cada irmão

Onde estão?

Aqui...

Em mim, em ti, em nós...

Nos que reagem à vida

Nos que acreditam no sonho

Nos que passeiam pelas nuvens da imaginação

E recuam face à devastação

Guerreiros de amor

Que se constroem onda após onda

Reforçando forças

Alimentando tramas

Acalentando vivências e tentações

E o fim?

Está pertinho daqui...

À distância de mais uns versos

Porque tudo continua aí

No lado de lá do sonho

Depois da linha do horizonte

Onde o peso da realidade é menor que a gravidade

E o risco de cair é diminuto

Aí, onde moram as fadas

Existe um caminho para reagir

Que quebra a distância entre mim e ti

E faz da realidade o sonho que existe em mim

Aí e só aí as borboletas voam felizes

Os anjos saltam a corda do carinho

E envolvem os descrentes no sonho

Em bolas de sabão que enchem de amor o coração

Dos que de tão cego não vêem por onde vão

O fim?

Chegou agora...

Mas tudo recomeça logo a seguir...

Quando este momento terminar

E um ainda mais belo a ele seguir!

Sonya
Enviado por Sonya em 07/10/2006
Reeditado em 30/07/2008
Código do texto: T258714
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