“Solene perda”
Vivo sem saber quem sou
Já me importei, claro
hoje não, não me procuro mais
Vivo de minha solene perda
Ora, tudo que eu temia, hoje é minha energia
Vivo no abrigo, na antiga dor
e uma flor, ao desabrochar, sorri
Mas meu sorriso, que escândalo
Vivo a passear entre os mortos
Mortos; porque o tempo não lhes pertence mais
Vivo nas ruas ao meio-dia, vivo!
À noite eu conto quase tudo ao tempo dos outros
Mas ninguém me ouve, o que digo não faz sentido
Vivo o não-sense, livre-me
Meu sentido é um escândalo, ninguém quer enxergar
Sou um louco varrido?
Vivo desse modo, sem precisar saber quem sou
Já me importei, claro
hoje não, não me procuro mais
Vivo de minha solene perda
“De perda?”
Sim. Desse ganho...
Dessa soma que me pertence
De um amigo, poeta, maluco!
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Para você que me disse certa vez: que às vezes é preciso alguns passos atrás, para depois então seguirmos adiante. Hoje me lembrei de você, de sua palavra oportuna. Então, Rogério, fiz um poema para os vencedores, aqueles que fazem de suas aparentes perdas, “uma soma que lhes pertence”. Você saberá repousar muitos nomes, nesses versos soltos, aqui oferecidos...