Condenado ao Mal do Século*
Faz-se um poeta a punhaladas no peito
Emurchecido e não a versos elaborados,
Pois aquilo que parece perfeito
É mera aparência aos sentidos equivocados.
Transcrever o que se sente no momento
- Sem apelar à forma, rima ou métrica -
Demonstra o genuíno sentimento
Vivido pelo Ser imerso na Dor tétrica.
E a cada nova linha torta
Escrita pela mão vacilante
Do poeta de substância morta,
Surge uma péssima perspectiva agonizante
Sobre o que se virá em breve.
Acaso ele é um aprendiz da Pitonisa
Mas não se atreve
A revelar o segredo do fim que não se realiza?
E fica a cismar pelas sombras do dissabor,
Procurando um olhar vago de mulher.
Mas só encontra o bolor
Deixado pelo sortilégio de algum mago qualquer.
O poeta é o sonhador idílico
Das paisagens verdes desbotadas.
É um descrente do conteúdo bíblico
E fiel às pagãs florestas profanadas.
Por isso é castigado pelo dedo de Deus!
Esse lírico prestigia os ritos órficos e os mistérios
Atribuídos a Dionísio, Apolo e até mesmo a Zeus...
Perambulando pelos antigos templos e cemitérios
Que marcaram a era clássica da Grécia antiga.
Porém a mágoa que rebenta o músculo
Traz em si a última cantiga
Que o Trovador entoará para o crepúsculo.
(julho/2008)
*Poema feito para todos que sofrem a maldição desse período.