DAS CINCO RAZÕES PARA SER POETA ( segunda)
SEGUNDA
Falou um dia o Poeta Ensandecido:
-Poesia está nas mãos
Nas palavras que tenho escrito!
E muitos disseram em lisonja
Ao mestre de verbo acrescido
Que beleza maior que suas mãos
Foi ter-lhe Deus a este mundo trazido.
Palavras afáveis em áurea moldura
Transpõe em feições um ar de cultura
Cultiva o intelecto, canteiro da mente
Anuvia o mundo em um olhar doente.
E um dia disseram-lhe
Que num lugar ao longe
Aonde não chegam seus olhos
A poesia se esconde.
E o poeta descrente reclama a um deles
A pensar que fizera a poesia uma escolha
_Como foge uma entidade que se apega a uma folha?
Em um lugar distante
Que pouco lembra o teu
Em terra erma do mundo
Que a vida assim lhe deu:
Uma casa de sapê
E em seu quintal um arado
Que espera há muito chover
Curar o solo rachado
Para mais um ano viver.
Ao fim da tarde à cerca
Com toda a família vem ter
Tentando cantar o momento
Beleza não soube dizer.
E o poeta em cultura
-Que lhe condene o Inferno!
Pôs-se a zombar do pequeno
Que em vida atarefado
Não teve tempo pro verbo.
Rebaixado, o coitado!
Já pelo Sol castigado
Cai-lhe ainda o mundo
Morrerá deste fardo!
Que o condenem mil palavras
Fujam-lhe aos olhos ainda!
Pobre deste que não sabe
“Poesia é a sua vida”!
Ao Poeta Ensandecido...
Tenha Mil anos de vida
E não terá entendido
Que mesmo após a morte
“maior poema é ter vivido”.
E aos Sanos Poetas do mundo
Vivam na vida a alegria, pois...
Se não é isto poesia
Quebro agora a minha pena
E já não quero ter nascido
Nem hoje ou qualquer dia.