Felicidade

O que é a felicidade?

A felicidade está

na lembrança de um amor,

que novo ainda,

instala-se em uma

tarde outonal de abril?

A felicidade abre

a janela

na infinita

apreensão

de um beijo?

Um arrepio de pele,

velada,

circunspecta

maciez

dessa tarde,

desse amor,

desse todo?

Não tenha medo!

Não tenha medo!

Ainda ontem

éramos tão inocentes

nessa procura.

Hoje

perscrutamos

a razão

e somos.

O que é a felicidade?

A felicidade está

no silêncio profundo,

no momento depois

do arfar dos plexos?

A felicidade tem nexo?

Está no adormecer

tranquilo da mulher

amada?

No desenho preciso

do repouso da mulher

amada?

Na pena do pássaro misterioso

que se desprende,

livre,

no final do dia?

Ave louca rompendo os ares:

irmã da paz,

filha do amor!

A felicidade

não é o final em si mesma.

É o sinal

do despertar.

O correr célere

na campina do ser.

A felicidade

é o desprezo

ao passado,

ao erro vão,

ao tempo perdido

no impasse das horas mortas.

A felicidade é o inverso

de luz do âmago.

É o clarão!

Como é lindo o clarão, o cair dos véus!

Não é mais sombras da caverna de Platão,

pois nada tem de platônico

e inversos, invernos, escuridão.

É o repartir,

o destrinchar,

o trincar de fina forma de mármore.

Cinzel e modelagem.

Ave louca rompendo os ares:

irmã da paz,

filha do amor! Repliquemos sempre!

A felicidade é a relva depositária,

o orvalho doce de lágrimas

após o descortinar

da senha.

É a senha.

Eu,

hoje,

me vi feliz

em um relance,

em um lançar

dos dados

de Deus.

Precisos lances de sorte e exatidão.

Um café, um livro, poemas de páginas viradas,

uma conversa na ágora central da vida,

uma viagem no asfalto e na terra batida,

um filme bíblico, vários filmes depois,

uma pousada, repousos,

uma serra absoluta, cercanias,

uns entendimentos de sol e sorrisos,

uma mulher delicada, a delicadeza do gesto,

uma canção preferida, um caminhar descalço no apartamento,

um conforto, um abraço tranquilo e forte,

uma sintonia, uma fala,

uma verve que cala, instala,

uma natureza felina, amálgama,

uma vestimenta em malva,

uma elegância no olhar,

um aroma de corpos afins.

A felicidade nasce

de onde muito espera:

calor e merecimento.

Além.

Gleidson Riff
Enviado por Gleidson Riff em 07/02/2020
Reeditado em 25/03/2020
Código do texto: T6860527
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