O Bloco atravessa a avenida de nossos carnavais
Na avenida
enfeites de luas e máscaras
de platinado barato,
estupor das carnes:
eis o carnaval.
Polichinelo bêbado
e a bailarina
purpurina
serpentina
serpente serpenteando ao tato alheio,
aos dedos afoitos machucando o gozo
e as marchinhas ranhetando o ouvido
do Pierrot de cone torto.
A Colombina desfigurada
pelo suor e a sanha.
O Bloco vermelho furioso fura a virgindade
da rua
na rua
na sua.
Crianças banguelas batem
inocentes palminhas
sobre os ombros dos pais.
Na África,
benguelas e nagôs e bantos,
pais do advento,
nem desconfiam do furor
daqui
d’aquém mar e trópicos trôpegos.
Lamúrias caladas:
o bumbo
o saxofone
o trombone de vara.
A moça de barriga de fora,
a fantasia lantejoulada,
alada nostalgia e éter,
purpurina nos sexos
e o Carnaval pulsando,
atravessando nossos peitos,
esquecendo quartas-feiras e panos quentes.