O Bloco atravessa a avenida de nossos carnavais

Na avenida

enfeites de luas e máscaras

de platinado barato,

estupor das carnes:

eis o carnaval.

Polichinelo bêbado

e a bailarina

purpurina

serpentina

serpente serpenteando ao tato alheio,

aos dedos afoitos machucando o gozo

e as marchinhas ranhetando o ouvido

do Pierrot de cone torto.

A Colombina desfigurada

pelo suor e a sanha.

O Bloco vermelho furioso fura a virgindade

da rua

na rua

na sua.

Crianças banguelas batem

inocentes palminhas

sobre os ombros dos pais.

Na África,

benguelas e nagôs e bantos,

pais do advento,

nem desconfiam do furor

daqui

d’aquém mar e trópicos trôpegos.

Lamúrias caladas:

o bumbo

o saxofone

o trombone de vara.

A moça de barriga de fora,

a fantasia lantejoulada,

alada nostalgia e éter,

purpurina nos sexos

e o Carnaval pulsando,

atravessando nossos peitos,

esquecendo quartas-feiras e panos quentes.

Gleidson Riff
Enviado por Gleidson Riff em 06/02/2020
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