Pés sobre águas rasas

Por vezes não entendo o que escrevo, mas acho belo.

E o que hoje me faz sentido, amanha posso estar retraído, e deletar tudo o que escrevi até o momento.

O belo criativo me é interno, poderei eu lascar fogo em todas as palavras que escrevi?

-Sim

Respondo graciosamente

-Sem dor ou piedade.

Gosto da escrita enrolada, misteriosa, que precisa ser desvendada.

Algo sem conteúdo, que sirva como instrumento para me enlouquecer, para enaltecer o florescer de tudo que há interno.

E no inverno, prefiro esquecer e caminho sozinho por qualquer estrada, observando os ratos que me perseguem enquanto caminho sobre os trilhos gelados de uma noite cinzenta.

É apenas um olhar brilhante focado sobre a densa camada de prazeres terrenos. E a fumaça tão densa quanto você, que vem dançando em minha direção como se fosse um labirinto difícil de se encontrar quando se entra. Santo delírio de cada dia, venha ao nosso calor.

E a peça virou floresta, pés na terra para a saudação, ela chega lentamente, fração por fração, passa o dedo no meu queixo, provocando a minha excitação, ela sabe que não resisto a uma tragada de proibição.

Sim, sinto cheiro da magia cigana escorrendo nas minhas mãos.

Pois neste mundo de aparências,

aparentemente ruim,

eu escolhi estar aqui

nestas dependências

terráqueas para um fim,

evoluir!