“Quando se pisa nas palavras uvas... se produz vinho”
Foi no bar dos aflitos
Que eu encontrei Jesus
No largo da rua, sentado como um índio
Expulso do bar e maltrapilho
Lá estava o mendigo
E seu cachorro índigo
Um bichano simpático
Cujo rabo tinha perdido as estribeiras
E balançava ao vento como uma rabiola
O pobre homem que fazia o milagre da multiplicação
Para dar de comer e beber ao seu melhor e único amigo
Pegou um pedaço de giz e desenhou no asfalto uma palavra que não sabia ler
Eu estava fumando um cigarro antes de encontrar a prostituta
E o bêbado latia e o cachorro ria da imitação burlesca
Cheguei junto ao messias
Perguntei se ele sabia escrever ou se só sabia desenhar
Mas ele se agarrou ao cachorro que lambia os beiços do dono
Tentando extrair uma gotícula de álcool
Então ele abriu os lábios rachados:
“Dizem que isso no chão é felicidade”
E desembestou a rir........soluçando
Levantou-se e, acompanhado do vira-lata,
Começou a pisotear o desenho da palavra
A saltitar e arrastar o pé, limpando a rua
Quis lhe dar uma esmola, mas ele me deu um pedaço de giz
E eu escrevi esta poesia.