99
(Sócrates Di Lima)
Derrama-me tuas águas,
E inunda minhas vontades,
Das rochas que deságuas,
Miro tua fonte nas minhas saudades.
Mergulho nos cristais das virgens matas,
Que brilham em luzes sobre águas da tua paixão,
E do amor que derrama pelas cascatas,
Transborda em preces no meu coração.
Como cachoeira banha o meu corpo desnudo,
E como orvalho deixa minha pele em gotas,
à distância meu desejo fica mudo,
Mas, minha saudade grita em tuas portas.
Ouça-me mulher do meu amanhã,
Pois no hoje me tens por inteiro,
Deixa-me intrépido neste afã,
De deitar-me em teu corpo prisioneiro.
E quando fecho os olhos nas madrugadas,
Vejo um número que nos duplica,
Como em conchinha nossos corpos em vontades coladas,
E o número noventa e nove em silêncio nos identifica.
E assim, quando a noite nos absorve,
Bebo do teu silêncio adormecido,
Meu corpo ardente em ti se resolve,
E sublinhamos o nosso dia amanhecido.
Abraça-me na alucinação dos sonhos teus,
Toma-me de súbito e me bebe,
Como em cálice de amor os beijos meus,
Que te profana os desejos e nem percebes.
Vem amada que me circunda,
Em véus de amor me cobre em lírios,
Pois, vou tocar-te de forma tão profunda,
Que meu amor te fará em delírios.
Embriaga-me do mel que nos teus lábios bebo,
E dos suspiros de amor que teu corpo expele,
Faz-me insano de forma que nem percebo,
Mas, me devasso na fragrância nua de tua pele.
Ama-me então profundamente,
Divaga e vagueia perdida em meus anseios,
Para que eu adormeça depois do amor vivido intensamente,
Com todos os meus desejos na magia de colo e seios.
E assim na madrugada que nos espera,
Em longas noites de desejos pervertidos,
Possamos depois do amor em conchas e quimera,
Suspirar no prazer dos nossos corpos bem amanhecidos.
Como 99, hoje ou na velhice nossos corpos colados,
Em ternura e afagos sem pudores,
Tenhamos nossos desejos derramados,
Sobre o ninho aromatizado de vinho e flores.