A pena e o papel
A pena e o papel
Geme o papel aflito
Por que tanto desespero
Tantas lágrimas num grito?
Tanto sonho, alucinado
E amor ainda guardado...
E a pena, soluçando, replica
É que escrevo estas palavras
Curtindo dores intensas
Dessas que são choradas
Com uma saudade imensa...
O papel, contrito, aconselha
Ao invés de te lamuriares
De tanto me arranhares
Pensa um pouquinho sem dor
Escreve só o que fala o amor...
Mas o que mais me molesta,
Diz a pena, resmungando
Chorando e desesperando
É que o amor está sempre assim
Tão perto, tão longe de mim...
Continuando a conversa, diz
Dos ciúmes, das saudades
Das promessas, da felicidade
Da espera desesperada
De ser sempre a amada...
Que pena, diz o papel
Ficas só a te lamuriar
A sofrer, a reclamar
Esquecendo sem parar
De conjugar o verbo amar...
Confia em teu coração
Dize ao mundo que a ilusão
Ampara teu bem querer
Seduzindo com promessas
De beijos, abraços à beça...
Quer me fazer um favor, diz o papel?
Escreve agora pra mim
Frases que me atordoem
Canta cantigas de amores
Envolve-me só com flores...
Olhe pro céu de andorinhas
Que cedo deixam seus ninhos
Felizes da vida a cantar
Vão no ar assoviar
Em bandos e a voar...
A pena, toda agitada
Com uma alegria danada
Envolve o papel com ardor
E juntos, tal qual beija-flor
Recitam o hino do amor...
Myriam Peres