alma índia
como uma alma perdida,
desenganada, iludida,
mesmo não sendo bandida,
estava desguarnecida
e, assim, ficou decidida
a despedir-se da vida
mas ao chegar num riacho,
indo pro despenhadeiro,
o que a absorve primeiro
é o forte brilho de um facho,
mostrando mais de mil cores
(ou será que eram sabores?)
que se interpenetravam
e eram ou se transformavam
num poderoso arco-íris
lembrou-se do deus Osíris,
de Maomé, de Platão,
Buda, Jesus, Salomão,
São Cipriano, Guiné,
e, reunindo sua fé,
viu São Basílio no exílio,
Pedro, Maria e José,
o carpinteiro do mundo
foi quando ouviu lá do fundo
do riacho que reluzia,
pois tudo em volta brilhava,
a voz que ela sabia
que, uma vez escutada,
jamais seria esquecida,
voz que curava ferida,
a voz do amigo Tupã,
que suavemente dizia:
“tu és somente alma índia,
não podes correr vadia,
rumo do despenhadeiro,
temendo o teu paradeiro
veja o nobre coqueiro
que sempre aponta pra cima,
veja teu corpo inteiro,
és pra sempre uma menina –
pega o teu arco e a flecha
e com os cabelos ao vento,
vá dispersar teu alento,
volta pros que te esperam”