DESENCARNADA
Desde a primeira vez em que eu senti o calor deste mundo,
E como tal qual a um ovo eu fui simplesmente depositada,
Imaginei que esse golpe do destino em mim, seria profundo,
Sem receber ajuda de ninguém, vi a minha vida abandonada.
Queria apenas comer sem parar, ia engordando e crescendo,
Inchando e me transformando, eu já estava até com pelinhos,
Quanto mais estressada eu ficava, a mudança ia acontecendo,
Não queria saber se eu estava errada, seguia aqueles caminhos.
Nunca tive um amor de mãe, nem o meu pai sequer conheço.
Já faz um tempinho que por aqui vago, já corri muitos perigos,
Dentro deste meu jardim trancado, deito, durmo e amanheço.
Tenho pesadelos com pássaros que infelizmente são inimigos.
Sei que eu sou detestada e horrorosa, me chamam até de nojenta.
Eu vi muitas mortes, algumas amigas foram pisoteadas e queimadas.
Somos taxadas e recriminadas e a todos, nosso aspecto só afugenta.
Não tenho culpa de ser assim tão diferente, estamos desesperadas...
Um dia, porém, aconteceu um fato muito interessante e curioso.
Todas nós se pomos de ponta cabeça, o que acontecerá bem aqui?
Em volta do nosso corpo um casulo nós fizemos, era bem laborioso.
Senti que chegou a hora da morte, mas pouco tempo eu ali dormi...
E quando a primavera chegou, eu despertei de um estranho sonho.
Entretanto, eu ainda estava presa lá dentro, eu precisava escapar.
Senti um desgosto em voltar, retornaria eu ao meu corpo medonho?
Sem saber da surpresa, fui saindo devagarinho, o que iria encontrar?
Meus olhos admiraram a luz, eu me espremia ao sair da casa apertada.
A natureza foi a espectadora, daquele meu renascer sobre a despedida.
Lá dentro de mim saiu uma lindíssima borboleta colorida, maravilhada!
Sequei minhas asas ao sol, deixei de ser feia e voei para uma nova vida.