Habitar
Olhando por sobre minha asa direita,
O que me deleita
É o desenho impecável da serra,
Em verde veludo!
- Arquivo do mundo –
Registrando a história da Terra.
Elogio à soberania
Da harmonia.
- Fonte!
- Montes...
- Poder!
- Vontade... de viver!
De subir ao seu supremo altar,
Não para orar,
Mas, para me entregar.
Para a mim, regressar
Pulsação mais que ativa,
Incontida.
Quantos segredos!
Que belo relevo!
- Inacreditável paisagem!
- Impensável mensagem!
- Imponderável postagem!
- Impassível passagem...
A sensação é de proteção materna,
Firmeza terna!
Quem me dera assimilar todas as suas lições,
Cada uma das suas sensações!
Sobreposições
De exclamações.
Inusitadas constatações,
Inspiradas todas, em longínquas constelações!
- Seu temperamento!
- Acobertamento!
- Acolhimento!
- Seus filamentos...
Já, por sobre a asa esquerda
Uma exortação à nobreza!
Um abuso em azul,
Canto do vento sul!
Isso não é uma visão,
Está mais para uma alucinação,
Com seu mantra que nunca se repete.
Onde a vida se reflete
- Num balé hipnótico,
- Exótico!
- Quase utópico...
- De tão cósmico.
Vontade de mergulhar!
Ah! Se eu pudesse respirar,
Se pudesse algumas leis desafiar,
Para poder, com meus poros,
Para sempre registrar,
Seus magistrais solos...
Escandalosos
De tão caudalosos!
- Abusados!
- Concretos, de tão abstratos.
- Milimetricamente musicados,
- Escancaradamente delicados!
A sensação é de paz,
De, quero muito mais!
De felicidade
Por ter esbarrado,
Por instantes, tocado,
No sentido mais preciso,
Mais conciso
De liberdade!
- De universal criatividade!
- O Mar e toda sua maternidade...
- Sua insubmissa tranquilidade,
- Seu irrecusável convite à sensibilidade!
Não posso me furtar
A continuar
Com o privilégio de voar...
De, para sempre, o ar
Assumir
E me reconstruir,
Para, poder delicadamente habitar
Meu definitivo lar.