Tô Voltando

Minha mãe, prepare a festa

Tô voltando.

Arme minha rede naquele canto onde eu dormia,

Quero ouvir de novo o rangir do armador

Pra lá e pra cá... pra lá e pra cá...

Minha rede branca de listras azuis

Onde ainda sinto o cheiro de minhas namoradas

Que no embalo me embalava à noite

E eu sonhava o sonho do poeta

Que dorme e sonha e ama a sua amada.

Na beira do velho fogão a lenha

Deixe esquentando o meu café

Que mesmo distante ainda sinto o cheiro

E o seu calor aquece o meu peito

Que andava choroso de tanta saudade

Esquente o café, minha mãe

Estou voltando.

No tamborete na entrada da porta

Vou me sentar e lembrar dos amores

Das serenatas à luz do luar

Das saudosas novenas de São João,

Das vaquejadas e das cantorias

De minhas caçadas de minha meninice

Vá pro alpendre, mamãe,

Tô voltando.

Diga ao papai que sele o meu cavalo

Prepare as botas e meu chapéu de couro

Meu cachorro me espera no terreiro

E logo corre em direção ao curral

Pois eu já sinto o cheiro do gado

Ouço seu berro e o chocalho tocando

Pode sorrir, mamãe, que tô voltando.

Minha espingarda já enferrujada

Pendurada ao lado de minha rede

Companheira das grandes caçadas

Já sinto o cheiro da pólvora queimando

Olhe na porta, mamãe, abra os braços

Dê-me um abraço, mamãe, tô chegando.

Poeta do Riacho
Enviado por Poeta do Riacho em 05/02/2010
Código do texto: T2070348