Tô Voltando
Minha mãe, prepare a festa
Tô voltando.
Arme minha rede naquele canto onde eu dormia,
Quero ouvir de novo o rangir do armador
Pra lá e pra cá... pra lá e pra cá...
Minha rede branca de listras azuis
Onde ainda sinto o cheiro de minhas namoradas
Que no embalo me embalava à noite
E eu sonhava o sonho do poeta
Que dorme e sonha e ama a sua amada.
Na beira do velho fogão a lenha
Deixe esquentando o meu café
Que mesmo distante ainda sinto o cheiro
E o seu calor aquece o meu peito
Que andava choroso de tanta saudade
Esquente o café, minha mãe
Estou voltando.
No tamborete na entrada da porta
Vou me sentar e lembrar dos amores
Das serenatas à luz do luar
Das saudosas novenas de São João,
Das vaquejadas e das cantorias
De minhas caçadas de minha meninice
Vá pro alpendre, mamãe,
Tô voltando.
Diga ao papai que sele o meu cavalo
Prepare as botas e meu chapéu de couro
Meu cachorro me espera no terreiro
E logo corre em direção ao curral
Pois eu já sinto o cheiro do gado
Ouço seu berro e o chocalho tocando
Pode sorrir, mamãe, que tô voltando.
Minha espingarda já enferrujada
Pendurada ao lado de minha rede
Companheira das grandes caçadas
Já sinto o cheiro da pólvora queimando
Olhe na porta, mamãe, abra os braços
Dê-me um abraço, mamãe, tô chegando.