O Homem e o Lobo
Debaixo da árvore da vida
Ao som das gaitas distantes que vem tocar nossas almas
Eu sinto meu corpo ferver
Em um fogo de vida que arde do fundo
Sinto um lobo de olhar sincero correr para fora do peito
Pelos bosques ele desaparece correndo livre
Pelas flautas que ecoam de vilas arcaicas ele canta e dança
Celebra a vida nos momentos mais simples
Atravessa os vales e as pedras por muralhas de reis passados.
Suas patas deixando marcas na neve, nos brotos de novas vidas.
Deixando sonhos no solo
Seus olhos deixando promessas
Seu calor deixando consolo
Assim como toda coisa da vida ele passa
Como mais um passageiro dos dias
Segue seu próprio caminho rumo a um fim inevitável
Debaixo da árvore da nossa vida
As folhas caem aos poucos
E nós vemos os dias passarem
Como loucos espectadores da morte
O lobo e o homem se tornam um só
E a imensidão se torna pequena
A distância entre a carne e o espírito é apenas uma ponte
As pedras refletidas no rio de águas calmas
Nos trazem lembranças
De tempos que nem sabemos que vivemos
Nos trazem passagens de contos
Contados de boca em boca
Anotados em folhas amarelas por monges isolados
Trazidos por ventos, estradas e pântanos alagados.
Em séculos de histórias
Que agora nos são contadas
Nessa noite de fogueira e música
Onde o lobo e o homem dançam juntos a mesma melodia
O fogo da vida vem se unir aos ventos da montanha fria
O verde dos carvalhos se inunda de uma chuva fina
Que escorre pelas cores da vida e vem beijar nossa terra
Por colinas onde o tempo mostra um destino incerto
Os poucos que restam correm livres
E debaixo da árvore da nossa vida
Descansa o homem com alma de lobo
Depois de deixar suas pegadas e rastros na terra molhada
Para descansar sua eternidade debaixo da última folha que cai
E ambos, o homem e o lobo, se deitam num sonho eterno.
Onde a vida é apenas a vida. E a felicidade é apenas real