Índio Kaiowá
Por que você quer morrer, índio kaiowá?
Acaso não é bela a sua vida?
Seus filhos não correm soltos e felizes?
Onde estão o seu canto e a sua dança?
Por que você quer morrer, índio kaiowá?
Onde está o fruto da terra?
Onde está o jovem guerreiro?
Cadê o velho que em sua rêde contava histórias?
Por que você quer morrer, índio kaiowá?
Ah! Você está cercado!
Sua área é por demais pequena...
Perdeu seus meios de subsistência...
Ah! Você perdeu a sua identidade!
Já não sabe quem é...
Já não pode praticar seus rituais...
A criança, desnutrida, não mais corre.
O jovem está trabalhando na destilaria de alcool.
O velho ficou sozinho, lamentando o tempo antigo
em que o milho era abundante e o canto era forte.
Eu já sei porque você quer morrer índio kaiowá:
A dança e o canto eram sua vida!
Sem perspectiva, não há mais porque dançar, nem cantar...
Eu o compreendo, índio kaiowá!
Senti um nó na garganta...
Acho que vou chorar...
(Esse texto eu escrevi em comemoração aos quinhentos anos do descobrimento do Brasil, ocasião em que a Imprensa noticiava diariamente novos suicídios entre os índios da tribo Kaiowá. Foi apresentado em forma de jogral por um grupo de alunos).