Seiscentas vezes...ou vozes
Esse é o número de vezes
em que exponho a minha alma
em busca da calma que o dia a dia não dá.
Mas não faço isso sozinho.
Primeiro um mineiro me ensinou
que há pedras no caminho
e um outro, meio que de lá também,
me mostrou a travessia.
Seiscentos poemas, ou poesias,
que são quase a mesma coisa
e ainda assim se respeitam.
O mestre é aquele quem nos ensina
e maestria é o dom de fazer bem feito,
aquilo que foi aprendido.
Também não escrevo por dinheiro.
O padeiro não sobrevive
se não produzir o pão
e no pão tem arte,
a arte da alimentação,
enquanto a poesia
-ou poema, como queiram,
é a magia de expressar emoção.
Seiscentas vozes eu escutei
e em seiscentas musas eu me inspirei:
na dor, no amor, na fome,
na mulher, no homem
e até em que não sente dor,
em quem não tem amor e nem tem fome
e também em quem não é mulher e nem homem,
porque rotular é definir
e o universo é por demais complexo.
A poesia é como o reflexo
daquilo que não se vê,
mas que sabemos que existe,
porque a gente sente,
assim como, no sentido figurado,
rezar para um anjo da guarda,
simplesmente pautado num sentimento de fé.
Seiscentas vezes, seiscentas vozes
e estou pronto para uma progressão
aritmética, quiçá geométrica,
mas sem ter que medir as palavras,
porque se assim, exata for,
lá se foi o pobre do amor.
Que chova poesia
e a alface se disfarce
e as enxurradas não sejam de lama,
pois quem sabe assim,
a lama de Mariana,
nunca mais.