Ode a Pessoa
Tocaram as trombetas, rufaram os amores
Os anjos se curvam choram os querubins
Descia à Terra um poeta, o contorcionista das flores,
O exilado dos fulgores, o eu mais masoquista de mim
Nunca quisera saber da vida, apesar de sofrida conseguia levar
Escrevia em bares, guardanapos, farrapos,
Escrevia na pele de minhas artérias
E em suas terras tão sérias, rotulava sua vida de venérea
Não seria ele a imagem do eu, o salgado dos camafeus,
Que numa sinestesia, um dia, causaria torpor
Era uma flor em noite longa, descobrindo o desabrochar
Quem será o florista, o artista que decorará,
Minha vida, as cores, os amores,
Num papel de manteiga, num folheto, numa veia, numa vida?
“Se o Sol não pode viver longe da Lua, sou tua...”
Rasgara os versos jogara no lixo, não era certeiro, incerto, traiçoeiro
E seguia cantando ferida, falando pouco, descrevendo a vida
Remava em canoas furadas, não desistindo de remar contra a maré
Às vezes atracava em portos de alegria, a viagem era escassa
Disfarçava risos parcos, se infiltrava
A humanidade não era seu lugar, estranho demais para conviver
Se isolava, gritava, esperneava em poemas que jurava não sofrer
Até que um dia o papel foi cumprido,
As tábuas foram preenchidas, a profecia cumprida
Deus resolvera adotar aquele que só fez sofrer,
Tirava do mundo a escória, o troca letras,
O bêbado de uma nação sem mãe
Saía do mundo um cidadão frugal, um animal, tão natural
Que seja poeta enquanto dure, mas que seja pena enquanto ruflar
Gabriel Amorim 28/09/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/