O Guardador De Sonhos

O Guardador De Sonhos

Um dia a voz que está sozinha

Dentro de ti mesmo

Vai falar contigo. Escuta-a:

— Eu não quero te falar

Tu nem me ouvirias

Nada tenho a te dizer.

A voz está sempre aberta

Ao diálogo. Mas tu a rejeitas

Como um parvo, um galego:

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Seria um diálogo de surdos

Uma fala entre mudos

Nada temos a nos dizer.

Um dia, quando? Quando?

A voz que tudo tem a te

Dizer vai querer ser ouvida.

Não demora! Ou não terás

Mais ouvido para escutá-la

Conversas que precisas ter.

A voz que nada teme

Vai querer falar contigo

Revelar uma, duas vezes

Duas ou três coisas

Que ela tenta te dizer.

Há muito hesitas ouvi-la

Por quê? Verdades não são

Bem-vindas, a vida não é

Um refresco numa paisagem

Linda: encara-te no se saber.

Ela quer te dizer que tua

Pulsão de vida é morte

Que quem vive do ódio

Não vai sobreviver.

Ouve tua voz te dizer

Ela quer falar contigo

Tu não queres nem saber.

Ela quer te dizer da vida

Amanhã foi muito, muito

Tarde. O futuro em ti

Arde como brasa dormida.

Os tempos estão confusos

Os sentidos obtusos

Passado e presente levaram

As horas idas, por vir

Desse desviver.

Teu sono te traiu. Teu sonho

Sumiu, teu porvir morre

Antes mesmo de nascer.

A voz esquecida, muito

Mais que ida, nada tem

A te dizer. Mas ela quis

Falar contigo para que

Aprendesses a nascer.

Agora talvez tenhas ciência

Do sentimento do mundo

Apressado do consumo

Sem afeto, paz ou decência

E que o se chamar Raimundo

De nada vai te valer.

Agora rememoras a moradia

Esquecida da voz raramente

Ouvida, essa rosa silenciada

Que não pode mais te valer.

Teu medo de se saber

Teu medo: amar-se

Querer ignorar-se

Apagar da memória

Seus sabores. Negar

Tua agenda de crimes

Teu horror à liberdade

A necrópole ambulante

O natal em tua cidade

O sangue dos mortos

Em tuas mãos.

A voz queria ensinar-te

A saber crescer

Dizer-te da coragem

Da coragem inusitada

Do menino que ouve

A voz ativa dos sinos

Do amanhã como quem

Inconformado com esse

Mundo a ele reservado

Cria anticorpos no sangue

Para viver a Guernica

De seus vasos sanguíneos

E dela renascer: Abracem-se

Irmãos! Os caminhos sob as

Estrelas acabam de nascer

As filhas do Elíseo cantam

Canções subterrâneas

Na linguagem do fogo

Que se faz alvorecer

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 25/04/2010
Reeditado em 14/04/2011
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