Inverno no lugar onde moro
Inverno no lugar onde moro
É inverno
No lugar onde moro
Potentes gotas brilhantes
Caem do cinza céu
De meu Deus
E encharcam a terra
E a tornam mais fértil
Não demora muito
E aquela semente
Lançada ao solo
Vai germinar
Vai criar raízes
É inverno
No lugar onde moro
O vento sopra forte
uma canção
A chuva também faz toada
Que pede aconchego
Pede livro e lençol
Bebida quente
Para aquecer a alma
E tudo é calmaria
Dentro de nós
Na metade da tarde
O sol aparece tímido
Como colegial
Dos anos 80
Os pássaros aproveitam
a trégua da chuva
E cantam
E encantam
Os galos se comunicam
Numa linguagem particular
E contam mistérios
Da natureza
Enquanto a criança
Brinca com o cachorro
Que rosna preguiçoso
Logo o vento esfria
Os pingos de chuva
retomam o ato
As aves se guardam
Em seus ninhos
Na certeza que cantos
e vôos se encerraram
Nesse dia nublado
Silenciosamente
Os outros animais
Buscam tocas secretas
Os amantes se recolhem cedo
Cedo se aconchegam
E sem pressa se amam
E tudo se revigora
para receber o amanhã
No frio do inverno
Do lugar onde moro
Autora: Iracema Ferreira