O LENHADOR
(as moças cantam acompanhadas de kambanza e dança)
Hoje o Peru do mato viaja solitário e a passo e passo abeira-se
Do poço da nossa fé que começa por secar
É o lenhador de kitunda; kisoko de soba montanhês
Corcunda forasteiro com tatuagem da lua no peito!
Nós damos boas vindas a ele cujo domínio é a brenha
E dele pedimos unicamente pedaços de lenha
Para avivar o lume de sonhos em noites soturnas
Cá fora está um frio lancinante — lá dentro, o leito não basta
Nem mesmo os braços do nosso consorte
O fogo cadente vem de kitunda para aquentar o orvalho
E alimentar esperanças aos filhos esfomeados
Que chupam das tetas do deserto!
Hoje o Peru do mato viaja solitário e ei-lo aqui com a gente
À beira do poço das águas lamacentas
Dado isso, a piedade enterneceu-lhe a alma vagante
E de coração ao alto, deixou-nos pedaços de lenha ardente
Com um certo mito à maneira dos tempos fugidos
(E tal segredo envolto em lendas de antanho)
Que Ngunza abençoe o lenhador de kitunda
Esse passarão nobre da terra feraz
Corcunda generoso com tatuagem da lua no peito!
Kitunda — árvore de que se faz o carvão vegetal
Kisoko — amigo do peito, gracejador
Ngunza — ente espiritual
Escrito em Kimbundu.
Tradução portuguesa do Autor.