A SERIEMA E O BANQUETE

A SERIEMA E O BANQUETE

Certo dia lá estava a seriema,
Acordando matutina a piar,
E ela andava tão serena,
Que parecia a levitar.

Foi andando na ravina,
Procurando o que comer,
Pois é lá que ela imagina,
Que uma cobra quer lhe ver.

Ou seria o contrário,
No meu sarcasmo habitual,
Pois a seriema é o sicário,
E a cobra: o café matinal.

No embate que se sonha,
A seriema é varapau,
E a cobra e sua peçonha,
Às suas canelas não faz mal.

E assim o tal combate,
Tem um fim sempre igual,
Pois na morte o frio debate,
É se o banquete foi frugal.

Sendo um manjar que não leva,
Nem tempero ou mesmo sal,
E é servido numa mesa,
De chão batido ou coisa e tal.

E a natureza se demonstra,
Frente a todo animal,
Pois na vida quem se prostra,
Morre triste no final.

Então eu monto a seriema,
Sobre uma sela sem fivelas,
E declamo o meu poema,
Para as cobras das favelas.

Pois a vida é tão bela,
Mesmo quando chega a tarde,
Pois eu ponho na panela,
O sabor de uma saudade.
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Poeta Braga Costa ©2020
Jequié, BA, Brasil.