Vaso chinês

Quando pingavas, bastava,

Tolhia, colhia, molhava,

Mantiveste o olhar firme,

Como um chinês, vigiavas.

Sofri, corri, cansei,

Mas, naquela água que jazia,

Um vaso a mantinha, tão fria,

Tão perto, tão sombria, vazia.

Minha sede matei, mas vi,

Meu rosto em sangria, estrias,

Uma água que não limpava,

Um destino que não vingava,

O que tenho? Os cacos...

Passaste de mão em mão,

Por cada boca, em maestria,

Onde cada segredo refletia.

Água limpa em almas sujas,

De salivas, sempre ativas,

Em cada borda, não quebraste.

Naquela pedra, em cada mesa,

Estavas torto, gordo, inerte,

Guardaste o gosto de um por um,

O desgosto de cada um,

Para mim, para o fim,

De me transbordar.