PAISAGEM

(acompanhado de kalumbinga e dança)

Hoje o dia despiu-se do manto nublado

E o sol manhoso deslumbra-se ardente

Junto ao leopardo pela nascente efémera

Vale a pena esta nascente da última chuva

Que aquieta o bicho manchado

Por um instante, vale a pena

(tanto quanto posso perceber)

Pois bem próximo da ravina ali defronte

Sob o mesmo sol que ora vagueia

Com o lânguido eco dos ermos

Vê-se uma palanca desfalecida no aberto

Mas a palanca –

Por amor ao seu único bezerro

Que com o tíbio andar das horas tímidas

Desce do cume da colina

A palanca desfalecida voltou a si

De supetão

E aconchegou-se a sua amada cria

Lado a lado, um com o outro e a bem

Vão em busca de sombra e sossego

Pela ruela atravessando o saibro e tempo

Rumo ao hálito da humente ramaria

Mais tarde o sol cairá de grande altura

E com o kanzowe irá despenhar-se

No Kwanza meandroso

Ao encontro do peixe miudinho

Doravante estaremos de mãos juntas

Com longas listras da tépida lua

E o sonho que dá em plântulas do valeiro.

Kanzowe = pequeno pássaro ribeirinho.

Escrito em Kimbundu (Angola).

Tradução portuguesa do autor.