PROPOSIÇÃO

Choram as estrelas lá no alto do céu,

E as áves cantam co ' o seu plúmbeo véu,

E a noite doce, que nos encanta...

Fria e gélilda para a nossa garganta,

Nos traz a saudade, que nos atormenta,

Quando o sino da igreija e água benta,

Tlim Tlão, co' o relógio a dar horas,

E uma fonte seca cheia de amoras,

Enquanto o pastor co'a sua trombeta,

Apassenta as ovelhas, mas que peta!

Á noite se ouven os grilos a cantar,

Naquela noite de inverno, só a sonhar,

A ler o Pessoa ou mesmo Camões,

E o universo em peso ou carrilhões,

Quem me dera ser teu amigo, ó Nobre,

Que adormeceste triste e muito pobre,

E cumprimentar Cesário Verde,

Que é um poeta,que não se perde,

E ser do tempo do Guerra Junqueiro,

Que foi o imortal Poeta sem letreiro.

Lá no infinito do horizonte,

As Núvens deitam lágrimas na fonte,

E uma ponte cheia d'água.

Vem límpida com tanta mágua,

E Camões levanta-te da sepultura,

Vem ver como está nest'altura,

O Mundo, a vida, a Sociedade,

Cheia mesmo de tanta maldade.

E consoante a tremenda trovoada,

Berra agora Bocage, na noite alada.

É um inferno este universo,

Que parece triste e controverso,

Pela enxada do cavador,

Deus assim nos guia senhor,

Onde Florbela Espanca, alentejana,

Canta os seus poemas que não engana,

E o Rei D. Diniz, o poeta trovador,

De Leiria, que foi de mérito e de valor,

Co'a rainha Santa isabel,

Cheia de rosas e a saber a mel.

E todos os Poetas do Universo inteiro,

David Mourão --- Ferreira, talvez,

José Gomes Ferreira, verdadeiro,

Entre outros que cito por vez,

Ary dos Santos, Alegre herdeiro,

Do nosso Povo Portuguès.

Vamos abraçar convulsivamente,

Henrique Lopes de Mendonça realmente,

Não esquecendo Almeida Garrett

Herculano e tantos com fé.

Zangam-se as abelhas no seu lugar,

Tinitam as moscas, que vêm poisar,

E as vinhas que agora não dão nada,

É uma pena, cavar co' a enxada.

Que desolução! Que desilusão!

A agricultura, já não dá criação,

O vinho dá muito pouco dinheiro,

As uvas estão tristes, Engenheiro,

E a fruta caída no chão, enfim.

Que abandono! É o fim.

Veio a crise pra nos aborrecer,

Já não sabemos o que fazer,

E tu poeta, não esmoreças,

A vida é bela, tu não careças,

Temos mas é que poupar,

O dinheiro não se pode esbanjar,

A vida nos dá uma lição.

O custo de vida é mui caro então,

Lá vem a neve branca e pura,

Como em flocos de pão, que tristura!

E o meu pai,que não sabe o que fez,

Que me arranjou uma pensão d'invalidez,

Desconhecendo as minhas capacidades,

Passou por cima de mim, verdades....

Que podia bem ir longe na vida.

Se em crânça tivesse de seguida,

Capacidades, pra ser doutor,

Hoje todo o Mundo me dava valor.

A minha Mãe coitada, terna e doce,

Lá me aturava como se eu fosse...

Uma criânça de embalar, enfim,

Mas eu á minha Mãe eu adorava,

Pois eu sei, quanto Ela me amava.

Eu hoje sinto muitas saudades,

Estas são as minhas verdades.

Eu me apaixonei pela tua afilhada,

Com que me casei pela minh'amada,

Hoje estou viúvo nesta nossa quinta,

A sofrer imenso, alma destinta...

Sem Amor, carinho, Amizade.

Onde a tristeza me persuá-de.

Consoante a amargura me invade.

Aqui me enconrtro tão sozinho,

Não me tratem por coitadinho,

Eu não gosto de diminuitivos,

Já sou adulto, nestes crivos,

Sou um pobre, pobrezinho,

Que vive duma Pensão --Esmola,

Quem me dera ser criãnça d'escola.

Tinha pais, tinha tudo,

Não faltava nada, nem estudo.

Estou a escrever estes versos,

De modos tão belos e diversos,

Que não parecem nada ser meus,

Será que sou iluminado por Deus?

Ai que candura ai vai!

Nestes sonhos de Jormada, cai,

Pensando na minha tristeza,

Onde cai chuva com certeza.

Se me desses uma luz verde, meu pai,

Eu tinha seguido a minha vida...

Enquanto tu detestas a caridade,

Ao claro da luz e a voz sentida,

Tu quiseste-me proteger, eu sei,

Mas não soubestes ser pai, direi,

No entanto crepitam as estrelas,

No céu, co'os seus planetas,

Sendo o da Terra o maior...

Eu preciso mesmo de muito Amor.

As Árvores choram de medo,

Porque a vida tem segredo,

E o mar nervoso e calmo,

Co'os seus peixes e sem salmo,

E um barco rabelo na maré,

Alta, com um homem com boné.

Lá vai com o remo a navegar,

Porém o céu está a chorar,

De Amor e de remorso

Porque o mar não sabe pensar.

Neste momento qu'eu torço,

Onde a natureza é tão bela,

Se a soubermos encontrar nela,

Que tudo isto é Poesia.

A vida não é uma novela,

A vida é uma grande porcaria.

LUÍS COSTA

29/11/2009

TÓLU
Enviado por TÓLU em 03/09/2019
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