Canto do homem do campo
Andas, jovem, vai semeando,
Semear é tudo que realmente vale,
Enquanto semeias vai andando
Levando a vida em teu alforge velho.
Corre pelo campo os sonhos distantes,
Semeando alegrias, cantando canções,
Corre, jovem, atras de teus sonhos
É tudo que tens,
É tudo que te resta.
Não deixes morrer o sonho do campo
De ter ali teu pedaço pequeno
Teu fiapo de chão, teus sonho sereno,
Corre, jovem.
Não deixe as máquinas podarem teus sonhos
Nem a miséria parar-te os passos,
Continuas correndo, não pares,
Não deixa que te digam que teu sonho não vale.
Vai sumindo o jovem do campo,
Vai sumindo o sonho sereno,
Vai correndo em passos pequenos,
Vai murchando em frente ao gado....
Não te abatas, meu velho amigo,
Não te deixes fugir,
Continua em teu chão, teu fiapo de sonho,
Não deixa os monstros te tirarem dali!
Não me ouvis, meu menino?
Falo-te baixo? Não consegues ouvir?
Gritarei se preciso for:
Não deixes tua terra!
Ninguém me ouve...
E os sonhos vão murchando...
A lama do barranco vai sedendo...
A lavoura bela morreu...
O gado aos poucos sumindo.
O que houve, meu menino?
O que aconteceu?
Já não ouço o som da boiada,
Já não vejo o berrante nas mãos,
Sumiu-me o pedaço de terra,
Tiraram meu pedaço de chão.
Que aflição é essa que invade meus sonhos?
Uma dor aguda me corre no peito...
Falta água, pequeno menino...
Regarei a terra com meu sangue azul...
A lavoura crescerá
E aos meus netos dará seus frutos.
Não saio daqui, nisso não há jeito
Sou dessa terra, pequeno menino,
E nessa terra cavarei meu leito!
(Homenagem a todos que deram suas vidas pela sua terra).