Construção...

A casa estava desarranjada

indiscretamente, bagunçada

palavras espalhavam-se

pelo assoalho de madeira...

promessas de amor estavam

jogadas, displicentemente,

em cima das prateleiras...

o bule, vazio, guardava

o café que não fora tomado

as xícaras, trincadas, amparavam

os pousos dos lábios

que nem as tocaram...

os livros, em branco ,abertos

ainda no prelúdio, escondiam

a história que não decifraram...

pela soleira da porta

adentrava a terna fragrância

que ficou na varanda

sublinhada pelos passos

que não foram grafados...

a janela, lascada, entreaberta

totalmente, fechada

aconchegava em seu parapeito

os suspiros de nostalgia...

na mesinha de canto,

a vitrola, velha, arranhava

o disco, ninando o casal

do porta retratos

sem fotografia...

as velas, derretidas, contavam

memórias da paixão

que nunca aclarou...

as paredes, sem tinta, puídas

o teto, sem telhas, caído

a casa desarranjada,

bagunçada,

aguardava a visita

de um novo tempo

de um novo alento

para reerguer a morada

de seu coração...

Valdirene Nogueira
Enviado por Valdirene Nogueira em 03/06/2016
Código do texto: T5656321
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