Construção...
A casa estava desarranjada
indiscretamente, bagunçada
palavras espalhavam-se
pelo assoalho de madeira...
promessas de amor estavam
jogadas, displicentemente,
em cima das prateleiras...
o bule, vazio, guardava
o café que não fora tomado
as xícaras, trincadas, amparavam
os pousos dos lábios
que nem as tocaram...
os livros, em branco ,abertos
ainda no prelúdio, escondiam
a história que não decifraram...
pela soleira da porta
adentrava a terna fragrância
que ficou na varanda
sublinhada pelos passos
que não foram grafados...
a janela, lascada, entreaberta
totalmente, fechada
aconchegava em seu parapeito
os suspiros de nostalgia...
na mesinha de canto,
a vitrola, velha, arranhava
o disco, ninando o casal
do porta retratos
sem fotografia...
as velas, derretidas, contavam
memórias da paixão
que nunca aclarou...
as paredes, sem tinta, puídas
o teto, sem telhas, caído
a casa desarranjada,
bagunçada,
aguardava a visita
de um novo tempo
de um novo alento
para reerguer a morada
de seu coração...