BÊNÇA, MÃE LUA.
O novo canto da lua,
a nova face da lua,
a nova estética da lua.
Fria, suave, encantada,
- essa lua enamorada,
residência de São Jorge,
amor e encanto dos poetas,
enlevo dos namorados
nas noites mornas de estilo
- teve a face desvendada,
teve a estética reformada
e o canto mudou de tom.
Agora contam, não cantam,
a lua dos mares secos,
das crateras descobertas
por convulsões milenares.
Mas... Não caiu a influência,
a enigmática pressão,
a força de compressão
exercida sobre a terra,
pela lua vagabunda,
que gira à toa no espaço
sorrindo pros namorados.
Sem pretenções de grandeza,
senão a luz e a beleza
que desprende sobre a terra,
nas noites de lua cheia
- e a influência enigmática
que exerce nas criaturas,
a lua,
continua
eterna vagabunda,
sorrindo pros namorados,
colhendo ais e suspiros,
guardando recordações.
Os dias de maré alta,
tem o comando da lua.
Corre o lunático na rua,
tempo certo, todo mês.
E quando nasce a criança,
tem o mês vinte e oito dias
bem contados nove meses.
Quando se planta em minguante,
ou a semente não nasce,
ou morre a planta ao nascer;
se subsiste, é sem fruto,
mirrada, sem expressão.
Madeira de lua fraca,
seja minguante ou crescente,
dá bicho cedo, apodrece,
esta ciência não falha.
Galinha só choca ovos
em lua crescente e boa.
"Bênça, mãe lua!
me dá pão com farinha,
para dar aos meus pintinhos,
que estão presos na cozinha”.
"Mamãe é pobre,
não tem o que dar.
Não é como a senhora,
que tem cuscus e manjar".
A gente cantava assim
em noites de lua cheia,
quando a luz de ouro e prata
despontando em largo riso,
sorria para as crianças
na solidão da fazenda.
E o canto...
O canto da lua cheia
era mamãe que ensinava.
A gente cantava...
Cantava...
A mão na mão de um irmão,
a outra na mão do outro,
entre nós todos mamãe
a gente fazia a roda
e cantava no terreiro,
té...
- Chega filhos, chega,
tá na hora de dormir.
Ó noites de lua cheia
passadas na solidão
dessa remota fazenda!
Se me lembra... Se me lembra...
Mamãe cantava saudosa
olhando fundo o luar
que parecia chorar
nos raios tristes, doridos,
semelhando olhos de gente
também chorando saudades!
Mamãe chorava cantando
quando o esposo estava ausente,
pondo os filhos a cantar:
"A garça pôs o pé n´água
e o bico para beber.
Beba garça da minh´alma,
não me deixe padecer".
"Lá vai a garça voando,
com as penas que Deus lhe deu.
Contando pena por pena,
mais pena padeço eu".
"Lá vai a garça voando,
contando as penas que tem.
Leva pena e deixa pena,
Leva saudade a meu bem".
Eu aprendi a amar
a lua dos namorados,
e dando a mão à saudade
como dava a minha irmã,
Saí cantando na vida
essa canção dolorida
que a mãe me ensinou cantar.
E agora...
"Bênça, mãe lua!
Dá lembrança a mamãezinha,
que partiu, foi ver papai,
deixou a gente sozinha”!