CASA DE TAIPA, CORAÇÃO CAIPIRA
Fogão à lenha,
casa de taipa,
coração matuto.
Sem inflação,
sem poluição,
sem estatuto,
sem trânsito,
sem viaduto.
Horta no quintal,
pássaros no milharal,
porcos e galinhas e o Globo Rural.
Sonhos remendados
estendidos no varal.
Água de poço,
brisa suave no rosto,
setembro com luar de agosto.
Pescaria no final do dia,
cada pôr de sol, uma poesia,
vaga-lumes e cigarras estridentes
sapos roncando e estrelas cadentes.
Menino da Porteira na vitrola,
saudade gemendo na viola,
cadeira de balanço na varanda,
o tempo não passa, o tempo não anda,
pó da estrada de terra entalado na garganta,
amigos, vizinhos e compadres,
proseando no fim de tarde,
entre cachimbos e chapéus de palha.
Chão de terra batida,
roupa de suor embebida,
enxadas, foices e cerca de arame farpado,
coração caboclo apaixonado,
Vitor &Léo, borboleta e saudade,
e aquela vontade
de eternizar o tempo neste momento.
luz de lampião,
brejo, noite e escuridão,
mula sem cabeça, lobisomem e bicho-papão,
calos na alma e na palma da mão,
coração contente espiando a plantação,
varinha de pescar
rumo ao ribeirão.
Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte pro meu sertão!
(para Luis dos Passos)