Pensei Muito em Você
Pensei muito em você
quando subíamos o caminho no meio do bosque,
da mata, respirando o ar puro,
se soltando no silêncio da vegetação,
descansando no canto entrecortado de alguns passarinhos.
Pensei muito em você
pelo meio do caminho mais de plantas que de flores,
muito cheio de odores,
esquecemos nossas dores;
compartilhamos da sabedoria das árvores,
cheios de emoção, calados,
embora jamais tivéssemos falado tanto;
tanta coisa pra contar,
dizíamos que estávamos cobertos pela densa floresta,
era uma festa.
E continuamos pelo caminho,
maravilhados, uns dois bobos,
que nem quem nunca comeu melado;
o caminho é uma subida,
a gente sobe um morro,
só que coberto de árvores, plantas e algumas flores,
“nossa vida, mais amores”,
longe de nossos senhores e de seus favores,
perto de Nosso Senhor;
muita sombra, muito ar fresco,
os raios de sol que não nos deixaram,
mas pouco nos atingiam;
girava o nosso pensamento,
mas pra quê pensamento se naquele momento
o que se queria mesmo era pensar com os pulmões,
com os olhos, ou sei lá com o quê?
Paramos.
Já bem distante estamos
dos carros, do larguinho que fizeram pra estacionamento;
já bem distante, felizmente,
estamos o suficiente pra estarmos livres
da anti-civilização onipotente,
que nos cerceia
e pouco a pouco mata a gente,
que nem sente.
Agora somos civilizados,
embora tenhamos ao chão
um envólucro de chocolate de marca conhecida,
que a gente não liga,
chuta pro lado,
finge que é alguma folha caída;
aliás, não dá pra ligar,
é muito verde por toda parte,
é a própria obra de arte,
a gente já se entregou,
e se integrou,
estamos pintados de verde,
somos parte do cenário natural,
e estamos sós, bem sós,
“olhos nos olhos, quero ver”,
e você me diz
que precisa ser feliz.
Um beijo,
seus cabelos (desarrumo) em desalinho,
tiro todo o seu vestido,
minha roupa faz um ninho,
sua calcinha é branca,
da cor da primeira calcinha do mundo,
e desliza sobre o corpo farto, moreno,
já agora se aquecendo
e me aquecendo também,
os dois fervendo,
te penetro lentamente
como quando se fazia isso
sem que houvesse outra conotação
a não ser essa...,
estamos nús, nús,
nós e a vegetação, o bosque, a vida,
estamos nós, finalmente,
tal como filhos da Natureza;
nos amamos loucamente,
somos da vida a beleza...,
pensei muito em você.
Rio, 20/01/1977