ÚLTIMO CÂNTICO DE AMOR
(Sócrates Di Lima)
O último cântico de amor, poderia ser mudo,
Ou sussurros de morbidez,
No entanto, nada se ouve, cântico surdo,
No silêncio da alma pela última vez.
E no último cântico que a noite espalha,
Exala o perfume que o sândalo vicia,
No corte do machado que talha,
A alma que na selva de concreto se via.
E quando uma estrela remanescente,
Num um dia de céu em envólucro em breu,
Faz ponto de luz no mar sereno e envolvente,
No céu do horizonte, em que o mar sou eu.
Não se ouve a poesia recitando,
Nas vozes dos poetas loucos,
Nem se ouve murmurios difamando,
O fim das palavras se dizimando aos poucos.
Ai, que surgem nuvens em gritos sádicos,
Envolvendo o cântico que a alma expele,
Pelas vísceras que calam e fazem estáticos,
Os movimentos das mãos rasgando a pele.
Cala a poesia que as páginas encerram,
Nem se cobre a vontade insana do poeta,
Nem se pode expoliar os desejos que berram,
No último cântico do poeta que não mais desperta.
E se vozes noturnas maldizem o amor vivido,
Exclamando: - Eu gostava disso?
Triste cântico que não diz nada, mas, encerra o poema esculpido,
Na areia, carregada pela maré sem se importar com isso.
E se o mar concorda com a reciproca que é verdadeira,
Sobre a rocha desperta a sereia que canta,
Seu último cântico como um ato de brincadeira,
Na glória de ter aprendido que o amor sempre encanta....
......E desencanta.