Angústia

Meus sonhos, até os ainda não nascidos

Precisam de alguém para gestá-los comigo.

Minhas frustrações querem ser divididas,

Ser pelo menos ouvidas,

Acolhidas por um coração

Que possa diminuir sua proporção.

Quisera eu mostrar-me menos completa,

E deixar meus vazios a mostra,

Assim quem sabe não se fariam mais apostas,

Nem jogos, nem trocas.

Nasci para a entrega

Mas não sei mais me entregar sozinha.

Estou sedenta,

Me falta essência.

A sede me enfraquece,

Me leva ao delírio.

Não me permite enxergar o que tenho,

Venda meus olhos, desnorteia, embaça o perigo.

Até quando seguirei assim,

Criando personagens ao redor de mim?

Até quando abraçarei a solidão, conhecida antiga,

Como se fosse uma amiga?

Tenho medo de esquecer quem sou,

Já que perder-me já está me acontecendo.

Tenho medo de desistir do amor,

Mesmo não querendo.

Busco lá dentro da alma

O resto de fé que me enlaça,

E este resto é tão cheio de graça,

Que é suficiente para que eu ainda queira rever.

Rever minhas palavras, meus atos, meus sentimentos...

Rever meu jeito de relacionar com o tempo,

Julgando a vida longa demais

E supondo que nunca será tarde demais.

Rever minhas escolhas, meus caminhos,

Abraçar a mim mesma e dar o passo.

Matar a sede mas não por completo,

Pois só assim conseguirei enxergar

As possibilidades que estão por perto.