Âncoras
Forasteiros do mar me arrastam sem sossego,
sem pátria, o meu lar é um espelho resvalado
minha viagem não termina de pego em pego,
imensas geleiras polares o meu aço sulcando!
Vi afundarem suas névoas pélagos de brumas
a me tingirem de branco, de negro e de rubro
o casco velho que também foi ouro das gemas,
mas dos rosais nem o aroma ocre me lembro!
Um dia me ancoraram da terra no mais verde,
no maior profundo, no mais bravio dos mares,
fiquei entre azuis s’abraçando na imensidade,
sonhando a alvura das areias dos secos lares!
E quando me esquecem mergulhada nas águas,
posso ouvir gorjeio longínquo de mansas aves,
flechas adocicadas singrando no céu suas ruas,
tão leves,libertas,apenas migrantes sem naves!
Tantos buscando apoio seguro,nunca queiram!
Duro é estar amarrada num mundo que flutua,
monopolizada, até mesmo os sonhos partiram,
cruzeiros de outrem é minha rotina contínua!
Super miragem a minha,o infinito sem caminhos,
só mares brancos, roxos e rubros se alargando
e somente apequenando um mero sonho de âncora:
plantar-me como juncos entre rosais na aurora!
Santos-SP-01/10/2006