NÃO SEI.....
NÃO SEI
Não sei onde guardei minha alma,
Nem onde perdi o caminho,
Apenas o som de meus passos,
Espaçados, gastos
Acalentam o olhar que não descortino!
Por vezes me sinto como ave
Outras como destino,
Mas vejo-me no nada
O tudo que é meu caminho!
Não tenho guarida nem desejo
Abraça-me a noite
Com o manto mais fino da neblina
Cobrindo os vales que são mar
Ou o coração sozinho!
Não tenho o pião de criança,
A flor colhida no prado,
Nem sequer cantar a canção
Que minha avó ensinou
No seu sorriso de menina!
As palavras calam dentro como ecos
Do silêncio que não rebusco
Mas que é meu amigo!
O sofrimento é apenas um poema
E a esperança o sol que ainda brilha
Para lá do tempo, para lá do tempo!
O rádio toca sem me escutar
Enquanto a voz do artista me parece muda,
A sinfonia mais comprida e dura
Mas ao mesmo tempo meu carinho!
Sentado, dedilho os dias e as fases da lua
Como quem conta paixões
Que parecem desvanecer-se na vereda, adiante!
As pessoas passam indiferentes na rua
Sem notarem que eu estou aqui
Navegante, caminhante, descobridor!
Saltitei pradarias, lezírias, sertões
Foi ao serrado e às campinas,
Sujei na terra as mãos de suor
Lavrei com versos a horta
Colhi o fruto doce permitido,
Enxuguei a fronte molhada,
Dei as mãos, ergui orações ao céu
Ri, chorei e calei no intimo a tristeza!
Todos os dias eram manhã,
Todas as jornadas a rota, o azimute,
Onde se esfumaram os sonhos
Ou então se firmaram promessas e realidades!
Bato à porta e ninguém responde!
Lá dentro nem sequer o olhar
Nem a lareira acesa e o cheiro a madeira queimada!
Nada, apenas e só, nada!
O leito, meu conselheiro
Ainda guarda aquele calor
Do corpo cansado, vagueante!
E se me perguntarem o porquê,
Apenas respondo: Não sei!
José Domingos