E O VIAJANTE PARTIU....

E O VIAJANTE PARTIU....

E o viajante partiu!

Sem sonho, sem nada!

Leva na cintura apenas o bornal

Vazio como oca é a ilusão!

Para trás, um caminho calcado,

Pedrogoso e deserto ficou!

No recanto do mundo, mesmo ali,

Ecoam ainda as palavras ditas

E os poemas cantados ao luar!

Mas o viajante partiu e calou a dor,

Essa companheira amiga que o abraça

Com desvelo, talvez com dó:

A Saudade!

Para lá da montanha está o céu,

Cofre sagrado de odes e orações,

Naquele azul que veste como manto

O ar que polvilha o ofegante respirar

Do viajante que só, partiu!

Não leva mala, nem sacola,

Nem lágrimas nem esperança,

Apenas os passos arrastados,

Na poeira, no pó do tempo!

As mãos sem contas nem rosários,

Nem rancor ou raiva,

Estão cerradas e frias!

Apenas o silencio desértico do caminhar!

Por momentos parece ser senhor, rei,

Conquistador de horizontes sem exércitos

Que desbrava com um simples olhar!

Tem como bastão apenas a pequena varinha

Esculpida e pensante, que o fio da navalha talhou!

Cansado, o caminhante hesita mas resiste:

"Falta pouco, é mais além",

Segreda-lhe o espírito labirintico!

Suado, desfalecido mas com fé,

O viajante que partiu

Galga a ultima etapa, atravessa o cume,

Afasta o arbusto, tropeça na pedra,

Beija a brisa, desfralda os cabelos,

Rasga o peito, estala o coração e...

Depois da montanha, desapareceu!

José Domingos

Jose Domingos
Enviado por Jose Domingos em 21/05/2010
Código do texto: T2271500
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