E O VIAJANTE PARTIU....
E O VIAJANTE PARTIU....
E o viajante partiu!
Sem sonho, sem nada!
Leva na cintura apenas o bornal
Vazio como oca é a ilusão!
Para trás, um caminho calcado,
Pedrogoso e deserto ficou!
No recanto do mundo, mesmo ali,
Ecoam ainda as palavras ditas
E os poemas cantados ao luar!
Mas o viajante partiu e calou a dor,
Essa companheira amiga que o abraça
Com desvelo, talvez com dó:
A Saudade!
Para lá da montanha está o céu,
Cofre sagrado de odes e orações,
Naquele azul que veste como manto
O ar que polvilha o ofegante respirar
Do viajante que só, partiu!
Não leva mala, nem sacola,
Nem lágrimas nem esperança,
Apenas os passos arrastados,
Na poeira, no pó do tempo!
As mãos sem contas nem rosários,
Nem rancor ou raiva,
Estão cerradas e frias!
Apenas o silencio desértico do caminhar!
Por momentos parece ser senhor, rei,
Conquistador de horizontes sem exércitos
Que desbrava com um simples olhar!
Tem como bastão apenas a pequena varinha
Esculpida e pensante, que o fio da navalha talhou!
Cansado, o caminhante hesita mas resiste:
"Falta pouco, é mais além",
Segreda-lhe o espírito labirintico!
Suado, desfalecido mas com fé,
O viajante que partiu
Galga a ultima etapa, atravessa o cume,
Afasta o arbusto, tropeça na pedra,
Beija a brisa, desfralda os cabelos,
Rasga o peito, estala o coração e...
Depois da montanha, desapareceu!
José Domingos