moedas ao barqueiro

Proximidade sufocante

extasiante, delirante

a respiração ofegante

num cubículo sagrado e profano

onde descansa o anjo de luz

o anjo da escuridão

o anjo que nunca existiu.

Acima de nós, o bater de asas demoníacas

a sondar o futuro intenso, inexistente.

Por trás das pupilas dilatadas,

um sussurro, um arrepio,

um suspiro tímido,

quase obceno.

Uma estátua de gelo

retratando nossos corpos unidos

Um túmulo de vidro,

o sepulcro da lucidez...

Aqui jaz, descança em paz

tudo o que veio antes,

junto com a fumaça, a neblina, o uivar do vento gélido.

Os olhos se fecharam,

e as moedas do barqueiro

refletirão o imenso nada,

replicarão o som das águas mortas

e o anjo da luz e da escuridão

poderá enfim retornar.

escrito em 02/11/08