Desesperação da Nuvem

Tanto ficaram em ti, Vento arisco, meus olhos d’amor,

que longe os levaste apenas muitos orvalhos deixaste;

não podes me ver contudo, estou em ti como um calor,

debalde desmancho minhas mil mãos para acordar-te!

Mas silênci'ouço!Este silêncio d'eterna peregrinação,

e minhas vozes as carregam outros ventos à escuridão,

onde,sem ver meus dedos te pintar o vulto nem posso,

neste abismo onde sou apenas mais um nublar imenso!

Sente-me, amado Vento e me desperta no beijo matinal

das canções que outrora em minha sombra sussurravas,

eu, só Nuvem silente, largada num marasmo sem igual,

até que deixes meu amor içar tuas mil asas fugitivas!

Desesperação súbita'solitária me abate e te suplico,

que cesses em mim tua fúria, esmagando meus pedaços

multiplicados para cada viagem tua,pois só não fico,

sou tantas a te seguir! e sempre desenhando abraços!

Santos-SP-09/07/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 09/07/2006
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