Tardança no vendaval

Ventania desnorteada profunda e fria

sopra espalhando a solidão dispersa,

deserta, alcova sem fundo tão vazia,

espana meu coração em sua tardança!

Tal praia desgarrada do oceano bravo,

foge minha alma pelas frestas de sal,

de castelo à gruta o tormento restrito,

marejado,oculto,latente feito cristal!

Não é reala a melancolia que se sente,

dura, erma, viandante, vê-a quem quer

como a alma que há em mim, carente,

esquecida, exceto pelo vento indolente!

Vem, vento da sorte, teimoso, iracundo,

que rola folhas e minh’alma no mundo,

ah,se me levasses como folhas e areias

tu me farias monte.Gosto que me tateias!

Leva longe esta alma para não pensar,

apenas se abismar na chuva da noite,

que não me deflora a mente a sofismar,

arranca-me e me junca feito a semente

incônscia a brotar no abismo do nada,

dissolvendo em areia a dor profunda,

tão negra quanto o tédio ora quebrado

pela tuas largas mão frescas ventando!

Santos-SP-26/06/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 26/06/2006
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