Desabafo de Gente Grande
Eu não sabia do amanhã
E minha véspera foi de rei
Vivo assim. Assim que viverei.
Meus dias são vésperas
Vésperas do nada.
Dias que antecedem a chegada.
É a insônia que consome minha madrugada.
Olhos que não dormem
Sonhos que não acontecem
Amigos subindo
Eu cavando.
Eu sumindo.
Agora já foi
Minha véspera acabou,
Amanhã vai ser duro
Complicado de acordar.
Por isso, prefiro, às vezes, nem dormir,
Com medo do que o amanhã vai me trazer,
Com as dificuldades que terei que enfrentar
Tento fugir, mas o relógio não para
Os segundos correm desesperados,
Querendo, loucamente, o amanhecer
Tento parar, mas o tempo não pára.
Tento fugir, mas o tempo não foge.
Tento chorar, mas o tempo não se importa.
E, quando abro a porta,
Pronto pra correr como um louco,
A noite me diz que não é hora de loucuras.
E meu coração titubeia, porque tenho medo.
Tenho medo de tudo,
E ninguém sabe.
Sabe, faço as pessoas sorrirem
Faço-as esquecerem de seus problemas,
Mas, quando se vão, fico só.
E ninguém liga
Um ou dois, mas é coisa de momento,
Logo se esquece,
Logo encontram outro que as façam sorrir
Mas não sabem da dor que me consome,
Da dor que meu peito esconde.
Do sentimento aprisionado
Dentro daquilo que de mais precioso possuo,
Dentro de meu coração.
Lá, bem no fundo, ele quer parar...
Lá, bem no fundo, trancado, aprisionado,
É que guardo, com um carinho tenebroso,
Todas minhas lembranças maldosas e amores malogrados.
As vezes não consigo,
E algum amigo percebe,
São sutis os sinais
Mas logo some, desaparece.
É um fio de lágrima nos olhos
Algum sorriso amarelo
Um olhar no infinito
Penso e sei que não posso
Aprisionar aquilo que não é belo
Mas eu tento, sei que consigo.
São palavras que emudecem
Gestos que se apagam
Um fiapo de tristeza recolhida
É um amor que te faz mal
Porque aquele que fazia bem,
Já está longe
Longe de mim e de tudo
E tudo que posso encontrar nela
É um telefonema, uma voz distante
Sua respiração, não mais posso sentir,
Apenas ouço.
As batidas de seu coração,
Agora só mesmo em meus sonhos.
Lembranças duras e macias
Melhor esquecer, senão meu coração chora,
E não posso me dar ao luxo de chorar agora.
Não agora.
Agora não.
Sou fraco. Não sou uma pessoa forte.
E sorte então, melhor nem contar com isso.
Sinto-me tão... Tão...
Sei lá...
Sozinho.
Não sei mais se tenho sonhos
E se tenho, não sei mais se consigo realizá-los
E se consigo, nem sei se quero...
E se caso eu querer, não me importo mais.
Verdade. Dura, nua e crua,
Simplesmente, e cruelmente
Verdade.
É carregar toneladas de sentimentos, sozinho,
É enxergar o horizonte cinza,
Aonde eu via um céu azul.
É escrever poesias sem rimas,
É escrever sem pensar em você
É sentir dor, muita dor,
Por atos e fatos que eu mesmo fiz.
Mostre-me algo de bom que existe em mim
Mostre-me algo de interessante que realizei,
Mostre-me tudo aquilo que não presta em mim.
O resto eu queimarei,
Claro, se não sentir medo novamente,
Medo de errar
Medo de escolher o lado errado
Medo de amar novamente
E quebrar a cara, e sofrer.
Medo de viver tudo de novo
Medo de abrir os portões do meu coração
E morrer outra vez...
Medo, porque se morrer de novo
Dessa vez eu não agüentarei,
Se eu cair de novo, não sei.
Minha alma está despedaçada
Machucada, e cicatriz não lhe falta.
Ninguém está aqui comigo
E ontem, dormi sozinho...
E ontem, anteontem, e ante anteontem...
Abraço meus travesseiros
E converso com Deus.
Cubro meu corpo com meus cobertores
E lembro-me do calor dela,
Sozinho.
Definitivamente não nasci pra isso.
E, de certo, Deus me faz pagar a conta da pior forma
Ficando sozinho. mesmo rodeado de amigos
E gente que me quer bem
Pelo penso que me querem bem.
E deixe-me pensar assim.
Eu fecho os olhos pra não ver
E para tentar não chorar,
Mas as lembranças vêm
Daí em diante minha noite é estragada
Por doces momentos dos meus dias,
Mas que não passam de recordações,
Recordações que vivo
Recordando o passado
De um amor longe do meu lado.