Boca da noite
Sangrando o sol despede-se lentamente
Arroxeando o céu, cor da saudade.
Despida das suas cores a paisagem adormece
E em preto e branco renuncia a claridade.
Voluntariosa, chega a noite, toda prosa
Vem de mansinho, boca pronta para beijo
Lasciva a escuridão , desvirgina a madrugada
Bela, a ninfeta, anuncia-se em desejo.
Logo mais é dia, sequer preciso do canto da cotovia
Esplendoroso e versátil , o sol descortina-se .
É hora de partir, posto que é sina. Conspira o universo
Logo mais, boca da noite, carrega-te no colo, clandestina.