Vista do Eixo (1971)

É manhã no Planalto;

O vento morno ondula a grama,

Fazendo dela um tapete

Estendido por toda a cidade.

Sua cor profunda roça o azul sem nuvens

Ladeando o grande eixo numa volta suave.

As últimas chuvas trouxeram vida à paisagem,

Cujas árvores, alegres,

Exibem suas flores enfeitando a manhã.

Todas as cores luzem mais fortes hoje,

E o carro que passa solitário,

Quase voando,

Parece correr sem destino,

Pelo simples prazer de correr.

O sol, este motor imenso,

Em sua eterna harmonia,

Preside o crescer do dia

Num brilhar intenso,

Que encobre as árvores novas,

Penetra os edifícios,

Recorta sombras no chão.

O Planalto inteiro sorri

E, mais do que nunca,

Os edifícios parecem mais imponentes,

Suas linhas mais graciosas.

O concreto toma vida

E respira fundo o ar puro,

Para depois, num longo suspiro,

Embalar lençóis dependurados,

Desmanchar meus cabelos.

Lentamente,

Uma estranha sensação

De felicidade me invade;

Já não sou mais eu,

Agora sou árvore,

Sou pedra, sou luz.

Percorro este mundo

Batendo portas abertas,

Afagando um corpo moreno

Não sou mais um quarto fechado,

Onde a luz ainda não penetrou.

Transformei-me, de repente,

Numa grande cidade.

Tenho mil sons e mil braços,

Que trabalham, que suam e que amam.

Sou finalmente feliz,

Um poema feito cidade,

Sou Brasília, uma flor.